segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Bipolar

Ah, a sala. Fechada e comum, costumeira. Normalmente, eu a amo. Mas que tédio tantas vezes sinto nela! Começou a bater uma angústia. Aquele clima pacato me consumindo, uma agonia crescente.

E o mundo lá fora. Quando eu saí, fazia sol e, por um momento, eu me senti bem com o calor que eu comumente abomino. Depois do sol, vinha o ar agradável sob as árvores, que naquele lugar parecem todas pactuar para crescer entortando em direção à passagem, formando na pele da gente aquelas sombras que parecem desenhos de caleidoscópios. Me senti tão bem.

sábado, 5 de setembro de 2009

Projeto de drabble

Escrita para o Challenge de Drabbles do fórum 6V. Limite de 400 palavras, a minha tem 357. Ainda em fase de adaptação, aceito sugestões e críticas.


- Eu vou contar para a mamãe!
Ele correu escada abaixo, sentindo antecipadamente o prazer de entregar os irmãos.
Fred gritou, um degrau sumiu, Percy caiu.
Um joelho ralado, o choro, duas vozes idênticas.
- Bem feito!
- Seu nariz ‘tá com defeito!
E a garotinha ruiva, ainda usando fraldas, veio em sua direção, assustada com as lágrimas do irmão. Sentou-se ao seu lado, beijou seu joelho. E abraçou sua perna com força.
- Não chola, Pechy!

Montes de crianças e malas.
Correria e gritaria.
Tudo novo e empolgante.
Gui e Carlinhos procurando os amigos, Percy orgulhoso - de si mesmo.
O trem apitou, a mãe desabou.
Deu-lhe o abraço mais apertado e os beijos mais molhados que ele já recebera até então.
- Escreva para mim, querido! E comporte-se!
Percy obedeceu. As duas ordens.

Gina saiu da sala, após jurar fidelidade. O casal se olhou assustado. Os olhos dela se encheram de lágrimas.
A culpa era dela. Não era. Era. Não era.
A menina ia guardar segredo. Não ia. Ia. Não ia. Ia.
- Eu te amo.
Ela ergueu os olhos para ele, assustada. Percy sentiu as orelhas queimarem e o coração inflamar. Mas não desviou o olhar.
Penelope sorriu. Ainda com os olhos vermelhos, enterrou a cabeça em seu peito e o abraçou.

Estava escuro lá dentro, ele fechou a porta do dormitório e as cortinas de sua cama. Não podia acreditar, não podia suportar.
A vida sem Penelope era sem cor.
Mas umas mandrágoras resolviam.
A vida sem Gina era vermelha.
E nada resolveria.
Seus olhos, a cortina da cama, seu nariz.
Vermelhos.
Ele tinha brigado com a irmã naquela manhã.
Palavras e mais palavras, daquelas difíceis que Percy gostava de usar. Sobre consideração, confiança, vergonha, decepção, fardo. Todas as palavras que ele encontrou no seu acervo de mágoas instantâneas.
E agora ela se fora.
Primeiro Penelope, depois Gina.
Elas foram e a mãe estava vindo. Ele não conseguia imaginá-la. Não queria pensar nela.
Uma lágrima rolou por seu rosto, ele não sabia por qual das três.
Ele daria qualquer coisa por mais um daqueles abraços.
Mas, hoje à noite, só teria as lágrimas.


Agradeço à fofa da Pam pela betagem. ^^