sábado, 10 de maio de 2008

Coisas da USP

Eis que, ao chegar ao ponto de ônibus, as duas infortunadas edits recebem a notícia de que os ônibus estão em greve e só voltarão a circular após às duas da tarde. Como permanecer mais de duas horas no ponto não lhes parecia agradável, a alternativa que resta é a de almoçar no bandejão e aguardar até que pudessem voltar para casa.
Dirigem-se ao bandejão central, cuja fila está curiosamente curta. Questionam-se que tipo de gororoba estaria sendo servida ali, mas, tomadas de inusitada coragem, adentram o lugar.
A gororoba não é ruim. Arroz, feijão, farofa, lagarto. Não ousam experimentar a berinjela, tampouco a salada, que parece ter sido colhida na última jardinagem da praça do relógio. A mulher que serve o suco reclama em alto e bom som sobre o próprio serviço e enche apenas até a metade a caneca de uma das edits.
Encontram vazia uma mesa para quatro pessoas. Ocupam dois de seus lugares e põe-se a comer, enquanto conversam sobre a vida, a filosofia (é quarta-feira) e algumas outras vulgaridades. Até que senta-se junto a elas (sem questionar se o lugar está vago) uma figura de gorro, com roupas simples e dois jornais, os quais abre sobre a mesa e lê ao mesmo tempo em que mastiga, de boca aberta, a comida.
O almoço continua. Poderia ter sido um almoço normal. Mas de repente uma das edits percebe a figura de gorro com quem dividem a mesa dirigir-se para uma garota na mesa ao lado, perguntando:
- Você vai comer esse bife?
A menina responde negativamente.
- Pode pôr aqui para mim? - pede a figura, estendendo um copo plástico vazio. - Não é para mim, não. É para os cachorros - explica, enquanto a menina lhe cede, sem questionar, o pedaço de carne. Ele se refere aos cães sem dono que sempre podem ser vistos do lado de fora do bandejão, justo no horário de almoço, esperando que alguém compartilhe com ele as sobras dos bem-gastos R$1,90.
Até então, continuaria sendo um almoço normal. Se não acontecesse de a figura começar a gritar, não contente em apanhar a doação involuntária da garota:
- Porque eu acho um absurdo, sabe, vocês, alunas da USP, "tudo arrumadinhas", pegar um bife que vocês sabem que não vão comer! Porque enquanto vocês estão aí desperdiçando, tem muita gente lá fora morrendo de fome!
As edits, até então tranqüilas com a monotonia de sua refeição, se encaram com espanto, sentimento este causado pela repentina alteração no comportamento de seu companheiro de mesa.
Uma das edits olha então para o seu prato, onde meio bife permanece intocado. Ela não tem intenção alguma de comê-lo. A outra, com a refeição ainda pela metade, divide-se entre a idéia de se apressar para poderem ir embora rápido e a de puxar assunto com a colega, a fim de intimidar o homem ao lado. Afinal, ele não interromperia uma conversa para gritar com elas. Ou interromperia?
Mistério.
A edit atrasada termina a refeição o mais rápido que consegue, deixando sua sobremesa (uma laranja que mais tarde exigiria o esforço de três pessoas diferentes para ser descascada) para comer no caminho de volta à ECA.
As duas então se levantam. Pensam ter se livrado da figura alterada, mas ele chama a edit que não terminou a refeição, antes que ela possa se afastar. Felizmente, não grita com ela. Apenas pede que coloque seu pedaço de bife junto ao outro, no copo plástico.
Sair do bandejão é um alívio. Nenhuma das duas ri do acontecido - estão em estado de choque.
Passam pela feirinha de ambulantes, onde uma delas pára e compra gominhos de mel para o namorado. Faz algum tempo que ela e ele estão com vontade.
Em uma das barracas, uma moça vende cosméticos de várias marcas. A moça tem em sua companhia um cachorro poodle. Branco, com roupinha.
Ah, se a figura de gorro visse aquilo.



Post dedicado a Isadora Helena, minha mais nova companheira de aventuras.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Tesouras Nardoni

Cortam no momento em que você mais precisa.



Brasileiro faz piada com tudo. Até esse caso vai virar motivo de riso, se não for resolvido logo.
Mas não tem problema - no país do futebol e do carnaval, rir é o melhor remédio, não é mesmo?