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- São dois machos?
- Um macho e uma fêmea.
- Mas são castrados?
- Eles já tiveram filhos uma vez, daí eu castrei, se não, não dá.
- Ah, os meus eu castrei quando pequenos.
Ser bicho tem lá suas desvantagens.
Esses gatos, por exemplo. A mãe deles encontra com uma estranha qualquer na rua e começa a falar da vida íntima deles, na frente deles, enquanto a estranha acaricia suas cabeças. Coitados.
Pegar ônibus é algo curioso. Há quem goste, há quem não suporte, há quem simplesmente o faça. Mas o que não se pode negar é que há algo de peculiar no dia-a-dia de passageiros de ônibus.
A começar pelo ponto.
Você já chega nele se apressando e, muitas vezes, praguejando. Se estiver muito vazio, ou é porque você pega ônibus no meio do nada (sorte sua) ou porque você chegou um minuto atrasado e terá que esperar o próximo. Se estiver muito cheio, significa que você pode vestir a sua farda.
A guerra do embarque
é um dos momentos mais tensos. Ela tem início ainda durante a espera pelo ônibus, quando você procura um lugar próximo à sarjeta. Um lugar que, por intuição, experiência, lógica ou mandinga, você pretende que seja exatamente onde ficará a porta da frente quando o ônibus parar.
Então ele chega. Se parar na sua frente e você for o primeiro entrar, parabéns, você teve a sua primeira conquista de hoje! Se não, bem-vindo ao resto das trinta e duas pessoas que estão revoltadas se empurrando para entrar antes das outras. Mas não fique magoado se ficar entre essas pessoas. Veja pelo lado positivo: pelo menos o seu ônibus não parou atrás de um outro que não te interessa e, portanto, bem para trás do ponto, o que geralmente te colocaria exatamente na ponta oposta à que você costumava ficar na fila.
Então você entrou no ônibus,
após esperar as pessoas que entram e, como você, vão andando bem devagar e espichando o pescoço para tentar descobrir se há lugares livres depois da catraca (afinal, um dos grandes pavores dos passageiros, mesmo dos mais esportistas e saudáveis, é ser obrigados a viajar em pé). Se não houver, você tem que decidir entre:
1 - Passar a Catraca
Neste caso, você fica em pé. Se tiver sorte, alguém se oferece para segurar a sua mochila. Você pode aceitar e tirar o peso das costas (ou das mãos, onde você certamente a estava carregando, não para evitar furtos, mas para não atrapalhar os outros usuários, que você respeita demais) e entregar à pessoa. Mas aí você se sente obrigado a viajar perto da pessoa enquanto estiver em pé. Em vez disso, você pode escolher por si só onde vai viajar em pé e, usando das habilidades preconceituosas que eu sei que você tem, posicionar-se estrategicamente perto de alguém com cara de que vai descer antes de você. (No meu ônibus para a USP, por exemplo, não vale a pena esperar que alguém de mochila desça antes do campus, muito menos se for um japonês.)
2 - Ocupar um acento preferencial
O que sempre gera polêmica. Afinal, se um idoso ou uma mulher grávida entrar você com certeza cede o lugar (se você for uma pessoa decente que não finge estar dormindo). Mas e se entrar alguém mais ou menos idoso ou uma mulher mais ou menos barriguda? Aí sim, você tem que usar não as habilidades preconceituosas que eu sei que você tem, mas o bom senso e a intuição. Aí ferra tudo! Você sempre corre o risco de a pessoa se ofender. Sempre. Há quem diga que o melhor a se fazer é levantar-se e não dizer nada. Se a pessoa se achar "preferencial", ela senta. Mas aí você corre o risco de que aconteça o que me aconteceu um dia desses: o velhinho não sentou e outra menina pegou o meu lugar.
3 - A fusão dos dois, que é a minha preferida
Pegar um acento preferencial no fundo do ônibus. Você até cede o seu lugar - se o velhinho chegar até lá e ninguém oferecer o acento antes!
Outras coisas que rolam dentro do ônibus
Gente despencando de sono no seu ombro. Você sempre fica muito sem graça, mas não há como ficar bravo com a pessoa, a não ser que você nunca tenha durmido no ônibus. Se você já acordou despencando para cima de alguém, sabe que a vergonha dispensa qualquer repreensão.
Uma coisa desagradável e que é feita por gente bem acordada é ouvir música sem fone - ou seja, colocar trilha sonora para a viagem alheia segundo os seus próprios gostos - que costumam ser funk, pagode e techno; nunca topei com alguém que ouvisse Pink Floyd alto no ônibus. No máximo Michael Jackson, mas aí dá raiva porque você lembra que aquela pessoa só começou a gostar dele porque ele morreu. ¬¬"
Há também as conversas dos outros ("os outros", que você começa a reconhecer após um tempo na mesma linha), que acabam se infiltrando nos nossos ouvidos quer gostemos ou não. Mas eu poderia fazer um post apenas sobre elas, a começar pela menina que dizia à outra, como se fosse a melhor piada do mundo: "Ela não sabia distinguir uma veia e uma artéria! Hahahaha!"
Muitas outras coisas acontecem no ônibus. Mas eu não posso citar todas elas aqui porque eu dormi e quase perdi o ponto - e essa distração me valeu principalmente a perda da criatividade para finalizar posts. Acontece nas melhores famílias.
Para ler sobre o maravilhoso mundo do metrô, veja este post no blog da Juh.